Fones de ouvido para uso em retorno
Certamente quando falamos de fones de ouvido para igrejas, logo vem em mente sistemas de monitoração In Ear (IEM – In Ear Monitoring – retorno através de fones) ou operar o PA através de um fone de ouvido. Recomendo muito o uso de fones para retorno, já a operação de PA feita única e exclusivamente de fones é impossível, pois o fone não simula a acústica do local e as demais interações.
Fones de ouvido para uso em retorno
Quando decidimos comprar um fone de ouvido para uso em retorno para igrejas, sempre ficamos restritos à opinião (nada imparcial) do vendedor, que quase sempre oferece o Koss Porta Pro, certamente um ótimo fone de ouvido. Porém é importante conhecermos que há outras opções, e que fones de ouvido são muito mais complexos e diversificados do que pensamos. Isso se deve a idéia errônea de muitos que fone é tudo a mesma coisa, alguns duram mais que outros, tem melhor qualidade construtiva e só.
Quem não tem aquele fone chinês que veio com o MP3 Player “Super Bass”, chamados Ear Buds? Em geral possuem um som embaralhado, embolado, e completamente desbalanceado, principalmente quanto aos graves (sempre exagerados e sem definição) e também quanto aos agudos, ásperos e finos. Mesmo assim quase todo mundo gosta deste som e não troca esses fones por outros melhores. Fujam destes fones para uso nas igrejas, aliás em qualquer lugar!!
Para sabermos as diferenças e escolhermos o mais adequado às nossas necessidades e realidades, precisamos conhecer todos os tipos, seus defeitos e suas virtudes.
Existem duas categorias distintas de fones quanto ao modo de projetar o som:
-Fones de Ouvido (headphones) : O som é projetado para o ouvido pela orelha.
-Fones de Canal (IEM ou canalphones): O som é projetado para o ouvido pelo canal auditivo.
Os fones de ouvido podem ser divididos em várias outras categorias construtivas, mas as mais importantes são: Abertos e fechados.
Os fones de ouvido tipo “aberto” permitem que o ruído externo seja audível. Por suas características construtivas, sempre soarão melhores que os do tipo fechado mas não isolarão o ruído do ambiente externo (isolam 1 a 2 Db). Já os fechados isolam o ruído externo (10 a 25 Db), mas não soam tão bem quanto os abertos (parece que você está dentro de uma caixa). Bons fones fechados custam bem caro.
Qual a importância disto? Os fones fechados preservam a audição do instrumentista, bloqueando o som externo e permitindo que ele ouça o retorno em volume mais baixo. Imaginem um baterista: um fone fechado isolará por exemplo, 10db do ruído externo. Com um fone aberto, ele terá que aumentar o volume nesta mesma ordem para obter a mesma sensação sonora.
Além dessas características construtivas também podemos citar mais duas muito importantes em termo de conforto e qualidade sonora:
Circumaural : a espuma (pad) envolve, circunda o ouvido. Muito mais confortável que o outro tipo Supra-Aural
Supra-Aural: A espuma fica sobre toda a orelha. Mais desconfortável.
Já os fones de canal ou também comumente chamados de IEM ou In Ear Headphones (ou simplesmente In-Ear) são profissionalmente indicados para retorno, são geralmente completamente fechados ou semi fechados e são inseridos dentro do canal auditivo.
Essa característica chega a assustar muita gente, que pensa que por estar direcionando o som ao ouvido diretamente, possa causar danos à audição. Mas pelo contrário, o uso deste fone protege os ouvidos quando utilizado corretamente, pois ao isolar grande parte do ruído externo (até 34db, muito mais que os fones fechados, imaginem agora a vantagem do baterista do exemplo anterior usar um canalphone!), permite o uso em volumes mais baixos. Os fones de canal são a solução profissional para retorno In Ear. Não é a toa que os IEMs da Shure, Etymotic e outros são os utilizados pelos profissionais.
Mas nem tudo é perfeito: muitos não se acostumam tão facilmente a ter um objeto no meio do canal auditivo, ou até mesmo a sentir o som de seu instrumento “dentro” de sua cabeça. Geralmente uma fase de adaptação resolve isto e em poucos dias você se acostuma com esse tipo de fones.
Certamente um dos usos mais incríveis dos fones nas igrejas será na função de retorno dos músicos, onde podemos acabar com a “guerra dos volumes” ( ver artigo http://www.somaovivo.mus.br/artigos.php?id=92) e até mesmo protegendo a audição de todos (dos próprios músicos, do público – ao diminuir o volume do local) e até diminui os problemas com dos vizinhos.
Assim, vamos analisar os IEMs e os fones mais comuns aqui no Brasil, que estão a nossa disposição na Internet ou na loja mais próxima:
In Ear Monitors com ponteiras de material macio (ex.: silicone):
Baratos e bons:
Áudio Technica ATH-CK32 (R$89,00) / Creative EP-630 (R$60,00) / Sony MDR-EX71 (R$100,00) MDR-Ex85 (R$120,00) / Sennheiser CX300 (R$110,00) Fonte: Mercadolivre
Destaca-se entre eles o Creative EP630 (foto 1), ele tem um som maravilhoso pelo preço, bem melhor que seus concorrentes, graves e médios são seu ponto forte, isolando razoavelmente bem o som externo. Seu ponto fraco são os agudos, um pouco sujos em comparação com os graves e graves médios, mas podemos dizer que nessa faixa de preço ele é imbatível, e é apto a ser usado como retorno nas igrejas apesar do fio fino, que exige cuidados. O MDR-Ex85 (foto 2)é superior, porem custa bem mais caro.
Caso você queira investir mais na aquisição de IEMs profissionais mas não sabe se vai se adaptar, compre este da Creative antes para testar.
Caros porém melhores:
Shure E2 / E3 / E4 / E5 / Ultimate Ears Super Fi 3 – 4 – 5 / Etymotic ER6P / ER4P / MIPRO / etc..
Esses são IEMs profissionais, mas custam entre R$180,00 a R$1500,00 (em sistemas sem fio). Isolam até 34 db do ambiente externo e foram feitos para substituir os monitores de palco. São as melhores escolhas possíveis, porém poucos podem comprar IEMs dessa categoria pelo preço muito salgado. Suas sonoridades são bem balanceadas, nenhuma faixa de freqüências se destaca acima das outras, seus cabos foram feitos para serem usados sem dó, enfim, são profissionais. E quanto mais caros, geralmente, melhores são.
In Ear com ponteiras moldáveis:
Fone de ouvido Aberto Circumaural
Philips SHP805 (R$105,00) / Sennheiser HD201 e muitos outros modelos
Super confortáveis e com um som maravilhoso, esses fones não são indicados para retorno ao vivo pois são muito abertos, são enormes e são fones que por suas características construtivas apresentam alta fidelidade sonora mas vazam muito o som. São para ambientes silenciosos. Nesta categoria estão a maioria dos fones de alta fidelidade que chegam a custar 5.000 reais!
Os SHP805 da Philips são incríveis, não há fone por esse preço e com esse som. Seus drivers inclinados dão a impressão que se está na frente de um palco, ouvindo cada detalhe do som. Em casa… recomendo!
Fone de ouvido Aberto Supra-Aural
Koss Porta Pro (R$ 120,00) / Sennheiser PX100 (R$ 210,00) / AKG 24P
O Porta Pro é incrível pelo som, qualidade de construção e preço relativamente acessível. A Koss dá garantia integral ao produto, para sempre. É dobrável e economiza espaço na hora de guardar, vem com um pouch para armazenamento. Isso dá uma idéia da qualidade: arco em aço inox, cabo razoável, etc… só não é muito bonito. Por ele ser aberto, tem a desvantagem de deixar passar quase todo o ruído externo e por ser circumaural, pressiona toda a orelha, o que pode causar algum desconforto se utilizado por muito tempo. Se um fone aberto é interessante para você, é o melhor fone dessa categoria para retorno.
O Sennheiser PX-100 é ótimo, semelhante ao Koss em qualidade sonora (um pouco superior) e certamente muito mais bonito. Ele se dobra quase que integralmente e fica do tamanho de um par de óculos. Acompanha um estojo de acrílico protege muito bem o fone e permite enrolar o fio de maneira a não apresentar defeitos no decorrer do tempo. Pela diferença de preço, o Koss Porta Pro ganha nesta categoria.
Fone de Ouvido Fechado Circumaural
Sennheiser PX200 (R$ 300,00) / Sennheiser HD205 (R$ 205,00) / Fones para DJ / Philips SBC-HP460 (R$ 100,00), SBC-HP250 (R$50,00)
São fones adequados para o uso como monitor, isolam até 20db e qualidade sonora razoável. São geralmente grandes, exceto o PX200 da Sennheiser.
O PX-200 é semelhante ao PX100. Também é leve, pequeno e dobrável, porém fechado. Seria o fone de ouvido ideal para monitoração se não fosse tão difícil conseguir uma boa isolação, ele comprime a orelha por isso é um pouco desconfortável. Além de ser caro, é difícil de encontrar no Brasil. Nunca tive problema com o meu, mas muitos reclamam do desconforto.
Os modelos indicados da Philips parecem ser bons, e este fone HP460 é indicado para DJs, traduzindo: Isola de ruídos externos muito bem e provavelmente tem graves um pouco exagerados, se isto não for problema pode ser uma boa solução para você. Nunca os ouvi mas parecem ser ótimos e os testes dele que li são muito positivos.
Não citei os fones da Behringer, muito comuns aqui no Brasil, porque nunca os ouvi e não tenho referencias positivas dos mesmos. Alguns modelos da Coby são apontados como alternativa boa e barata, porém nunca os ouvi e não tenho idéia de como são.
Conclusão:
Vamos comparar alguns destes fones quanto às suas características. Muitos comparam fones pelo range de freqüências informada pelo fabricante. Exemplo 18Hz – 18Khz, mas isso não mostra qual a resposta quanto as freqüências todas as freqüências nesse intervalo, por isso devemos comparar utilizando um gráfico de resposta de frequencias:
Neste gráfico podemos ver a resposta de freqüência de 3 modelos muito bons (Koss PortaPro, Shure E2c e Sennheiser CX300 (muito parecido com o Creative EP630) em comparação com o “earbud” que vem com o MP3 Ipod, da Apple. Como podemos ver, o da Shure é muito mais linear e equilibrado, responde aos graves, médios e agudos muito bem, por isso é caro. O Porta Pro como podemos ver responde muito bem aos graves, apesar de não ter uma boa extensão e linearidade em comparação aos fones profissionais. O Sennheiser tem uma resposta maior aos graves, até exagerada. Isso não ocorre no fone da Creative que é mais equilibrado. Nas outras faixas de freqüência podemos ver que os Sennheiser são muito semelhantes aos fones mais caros, como o Shure e o Koss.
Agora vamos compará-los quanto à isolação:
Agora, voltando para o início do texto, lembram daquele vendedor que sugeriu o Koss Porta Pro? O Porta Pro é aberto, supra-aural. Traduzindo: Pode soar muito bem, mas não protege o instrumentista e é mais desconfortável que um fone Circumaural. Isso não o impede de ser usado, e com muito sucesso, nas igrejas.
Os sistemas IEM (fones de canal) foram criados para esse fim e vem se popularizando e não vejo porque não utilizá-los nas igrejas. Ainda mais agora que sistemas amadores voltados para uso em players portáteis, mas de ótima qualidade (Como o Creative EP-630), vêm surgindo. São pequenos e leves, não incomodando o instrumentista nesse quesito, além de muito discretos. Por outro lado requerem uma fase de adaptação, são um pouco desconfortáveis no início, mas uma vez adaptados ao uso, são fones imbatíveis pelo preço, pois fones de ouvido convencionais de qualidade sonora semelhante custam bem mais. O próprio instrumentista deve comprar e ter cada um o seu (questão de higiene!!!) e poderá utilizá-lo para os mais diversos fins – inclusive como retorno na igreja. Existem das mais diversas faixas de preço e gosto, e são uma boa alternativa.
Finalmente, é impossível apontar 1 fone ideal para retorno, tudo vai depender de quanto você pode e quer gastar, e do tipo de fone mais adequado às suas necessidades.
Minhas sugestões pessoais:
Aberto: Koss PortaPro é o melhor custo / beneficio.
Fechado: IEMs como o Creative EP-630 (bom e barato), Sennheiser CX-300 (mais graves), Sony MDR-ex90 (caro!) ou superiores profissionais mais em conta (Shure E2c por exemplo), bem como fones fechados circumaurais.
Publicado por Fernando Bersan em: somaovivo.org