Treinamento
de uma Equipe de Som - Parte 2
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Autor: Fernando A. B.
Pinheiro
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PARTE
2: ASPECTOS ESPECÍFICOS DE UMA EQUIPE DE SOM
1)
Dê o melhor para Deus.
Falar
em “dar o melhor para Deus” é comum, todo mundo já ouviu uma
pregação assim na igreja. Mas no nosso meio, de operadores de
som e músicos, o pessoal desvirtua um pouco. As pessoas pensam,
em sua maioria, imaginam que para dar o melhor para Deus, é
preciso TER O MELHOR. Por causa desse pensamento, de TER o melhor,
a pessoa quer investir em equipamento, instrumentos caríssimos,
etc.
Errado!
Para dar o melhor para Deus você não precisa de TER o melhor,
pois todas as coisas já são d’Ele. Na verdade, você que
precisa SER o melhor, pois Deus lhe deu o livre arbítrio, então
você tem a opção de SER o que quiser, inclusive o melhor. É
completamente diferente. Já vi muita sonorização de primeira
feita com equipamentos simples, e já ouvi muito lixo ser feito
com mesa digital e caixa da melhor marca.
Para
SER o melhor, você precisa buscar estudar, se aperfeiçoar.
Querer aprender mais e mais mesmo. Vou dizer: operador de som
nunca para de estudar, porque todo dia tem um lançamento, uma
nova tecnologia, tudo novo.
O
primeiro passo é conhecer o equipamento atual. Vocês precisam
saber a função de cada botão, cada coisa. Precisam dominar a
mesa de som, os amplificadores, o equalizador. O manual dos
equipamentos será a melhor companhia nessa hora.
Depois,
invistam em aprender novas técnicas e teorias. Vão para o
SomAoVivo, vão ler os artigos, vão estudar.
Também
não se esqueçam de participar dos ensaios. Um bom operador de
som precisa entender de música e de canto também. Na mesa de
som, você faz mixagem, e precisa saber quem está desafinado,
quem está afinado, quem ajuda e quem atrapalha. Como saber isto
sem entender música/canto?
2)
A igreja de cada um precisa ser referência
Todos
vocês precisam, nas igrejas onde participam, ter o melhor som da
região. Elas precisam ser referência em boas práticas de
sonorização. Tudo o que já falamos, como identificar os
equipamentos, manter inventário, isso precisa ser feito na igreja
também.
Eu
já tive a péssima experiência de ter um membro na minha equipe,
cujos músicos da mesma igreja um dia chegaram para mim e falaram:
“esse rapaz pode até trabalhar aqui no Anfiteatro, mas na
igreja o som é uma bagunça e não funciona.
Ora,
quando se fala assim, não está falando mal de uma pessoa
especificadamente, mas de toda a equipe. Estão falando mal de
mim, como responsável. Então, naquele dia em diante, eu passei a
cobrar deles que o som nas suas igrejas fosse tão bom quanto no
Anfiteatro, e é o que eu vou também cobrar de vocês com
insistência. E se preparem, porque eu vou perguntar isso para
músicos, para cantores, para os pastores de cada um de vocês.
Deixem
eu aproveitar. Hoje mesmo, agora há pouco, um pastor chegou até
mim e pediu para colocar um rapaz da igreja dele aqui na equipe do
Anfiteatro, para ele poder aprender. Agradeci a oferta ao pastor,
mas não queria ninguém de lá daquela igreja. Expliquei que
estive na igreja dele na quinta-feira, encontrei a mesa de som com
tanta poeira em cima que escrevi “lave-me por favor” nela
(realmente, um absurdo).
Também
falei que entrei no quartinho de som da igreja e encontrei muitos
cabos jogados, muito equipamento abandonado. “O senhor sabia que
tem equipamento lá suficiente para se montar outra igreja? Há 8
caixas de PA, 2 caixas de retorno, 2 amplificadores, todos os
cabos, só falta uma mesa de som. Então o senhor converse com
eles para primeiro manter o som da igreja impecável, para depois
poderem assumir um Anfiteatro, pois aqui tudo tem que ser
perfeito”.
Evidente
que ele não deve ter gostado de uma crítica dessas, pois uma
crítica ao som da igreja dele é uma crítica indireta a ele
próprio. Mas entendeu que a responsabilidade do Anfiteatro é bem
maior e que aqui o nível de exigência é muito maior.
3)
O trabalho é em EQUIPE
Quando
eu assumi, em 2004, o Anfiteatro onde hoje estou como responsável,
o chefe na época só permitia que duas pessoas mexessem na mesa
de som. Ele só confiava naqueles dois. A equipe tinha 10
integrantres, mas na verdade era uma equipe de dois operadores de
som e oito “carregadores de caixas”.
Isso
acabou no dia em que eu assumi como responsável. Todo mundo tem
que saber tudo de tudo do som. Cada membro precisa saber montar
tudo e operar o som, e se preciso sozinho! E hoje fico muito feliz
em dizer que lá funciona assim, todos conhecem o trabalho e sabem
fazer o melhor.
O
segredo para isso é revezamento (mostro então escala de
revezamento para o evento, onde cada pessoa passaria por todas as
funções que envolvem o som). Fulano vai começar na mesa de som,
na segunda aula vai ficar lá em auxílio com os pastores, depois
vai lá para trás fazer monitoria, e assim por diante. Depois
roda de novo.
Como
estamos em seis, e só precisamos de três (três postos de
trabalho), então vamos trabalhar dois a dois. Um mais experiente
acompanhando um menos experiente. Nas aulas, quando for a
pregação, quem estiver na mesa de som aproveite para,
discretamente, ensinar tudo o que puder para o menos experiente.
E
eu sei muito bem que ensinar é trabalhoso. Cansa mesmo. Você
está sem tempo, enfrentando problemas, e ainda precisa sentar com
a pessoa do lado e explicar tudo o que está fazendo. É difícil
sim. Mas pense nisso como um investimento: você perde tempo
agora, para depois ganhar muito mais, quando tiver uma pessoa com
mesmo nível de conhecimento que você.
Agora,
uma boa medida é avisar para as lideranças tal situação. É
importante que eles estejam cientes que há pessoas em
treinamento, e que problemas podem acontecer por isto. Com certeza
elas entenderão a necessidade de formação de novos. Mas se um
pastor avisar que a reunião é mais séria e que precisa dos
melhores, o treinamento fica para outra oportunidade.
Outra
coisa importante: cada um opina, cada um participa. Ninguém é
dono da verdade, ninguém sabe tudo. Pedir ajuda não é vergonha
alguma. Ruim, no caso, é ficar quieto, calado.
4)
Nada é imutável
Uma
coisa que eu acho muito legal em sonorização é que se dermos o
mesmíssimo equipamento para 10 pessoas diferentes, é bem
possível que encontremos umas 3 ou 4 formas de montar diferentes.
Isso não é problema, na verdade é vantagem. Tudo bem que
algumas formas darão mais ou menos trabalho, mas o importante é
o resultado obtido. Se uma forma teve pouco trabalho e ótimo
resultado, é isso que estamos procurando.
Eu
estou explicando isto porque precisamos que a equipe encontre
isto, a melhor forma de trabalho. Ou o melhor resultado sonoro com
o mínimo de trabalho. Isso demandará testes, muitos testes, e
será uma decisão em conjunto. Só para vocês terem idéia, lá
no outro Anfiteatro, levamos 2 anos para achar a configuração
ideal.
No
último evento, vocês fizeram as vozes com 4 microfones overs.
Hoje, vamos trabalhar com 16 microfones dinâmicos de mão. O
resultado pode ser melhor ou pior, e só vamos ver na prática.
Mas como a mesa só tem 32 canais, pode ser que 16 canais para
vozes sejam excessivos e precisemos diminuir para 12. Isso só o
tempo dirá.
Não
existe problema algum nisso, e será ótimo, pois vocês terão
oportunidade de ganhar experiência com os testes. Problema é
achar que algo é fixo, tem que ser assim porque alguém falou.
Então, não tenham medo de mudar, não tenham medo de arriscar.
Aprendemos mais com nossos erros do que com nossos acertos.
Testem, testem, façam mais testes. Um dia, com bastante
experiência, vocês descobrirão qual a melhor configuração,
qual a forma de obter o melhor resultado.
E
ainda assim, preparem-se: um dia vai chegar alguém aqui e pedir
uma coisa completamente diferente de tudo o que vocês já
enfrentaram. Nesse dia vocês verão como ter feito muitos testes
ajuda, pois servirão como base para as novas mudanças.
5)
Nosso trabalho é em CORPO com os músicos e cantores
A
Bíblia ensina lá em 1 Coríntios 12:
“Porque,
assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os
membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também.”
Louvor
a Deus é uma coisa que envolve músicos, cantores, operadores de
som. Música sem letra, sem vozes, é algo bonito, mas não
transmite mensagem alguma. Vozes sem música é até bonitinho de
ouvir um pouco, mas ninguém agüenta nada além que um pouco.
Eles sem nós operadores alcançam talvez umas centenas de
pessoas, mas nunca 2.500 pessoas. E nós sem eles não somos nada,
no máximo reduzidos a um playback!
Então,
nada de briga com cantores e músicos. Vocês estão proibidos de
chegar para um cantor/músico para criticá-los, dizer que não
cantam bem, que tocam mal, que são surdos e/ou qualquer outra
coisa. O que vocês podem fazer é chegar para o responsável pelo
grupo e reclamar com ele, e olhe lá.
Cuidado
com o que disser, cuidado com o jeito que falar as coisas. Em vez
de dizer “que tecladista ruim você arranjou”, diga:
“companheiro, será que você não tem um outro tecladista para
testar? “ Quando alguém chegar pedindo alguma coisa, fale que
você tem ordem de solicitar que o pedido passe primeiro pelo
responsável, antes de poder fazer. Não diga “você não tem
que me pedir isso não, tem que falar com Fulano”. Diga que
existe uma ordem (tira-se o caráter pessoal da coisa) e mostre
que existe uma hierarquia a ser obedecida.
Mas
uma coisa vocês podem fazer: insistir 1.000 vezes que todos
precisam chegar cedo para fazer a passagem de som do evento. Por
outro lado, vocês tem que dar motivo para poder fazer essa
colocação, e o motivo é estar tudo pronto realmente 01 hora
antes do evento.
Por
último, insistam em ensaios, ensaios e mais ensaios. Aqui no
Anfiteatro e na igreja de vocês. É nos ensaios que aprendemos os
hinos, conhecemos os arranjos, as voltinhas, tudo. É essencial
conhecer bem os hinos.
6)
BRIEFING
Essa
palavra, em inglês, é usada no meio militar. Ela nada mais é
que uma reunião prévia, antes da ação, onde todos os
envolvidos se juntam, discutem como será a ação, estudam qual a
melhor forma de fazer, antecipam os problemas, etc.
No
trabalho de vocês, antes de cada evento, vocês se reúnam.
Haverá um momento para oração, haverá um momento para
conversar sobre o evento em si. Quem será o pregador,
necessidades especiais, problemas que podem acontecer.
Também
se divide as tarefas, tanto quanto a montagem (Fulano montará o
som dos cantores, Beltrano montará os instrumentos, Siclano
montará a mesa de som) quanto na operação de som (Fulano irá
ficar com os pastores, Beltrano na monitoria e Siclaro operando a
mesa de som). Em resumo: a reunião aborda todos os aspectos
possíveis, e divide as tarefas entre os integrantes da equipe.
Isso
terá grande impacto sobre os trabalhos. Na montagem, ao se
dividir as tarefas, cada um já sabe o que tem que fazer e a
tarefa a cumprir. Evita-se desperdício de tempo, evita um monte
de “baratas tontas” andando para lá e para cá sem saber o
que fazer.
Quem
for designado para montar os cantores irá montar tudo referente a
eles: desde os pedestais de microfone, os microfones, os cabos,
medusa (se houver) até as caixas de retorno. Também será a
pessoa que irá testar os microfones.
Quem
for designado para montar os instrumentos (não os instrumentos em
si, mas a preparação para receber os instrumentos) terá que se
preocupar com os microfones, os pedestais, diretc boxes. Terá que
providenciar energia elétrica para os instrumentos eletrônicos
(pedaleiras, teclados) e testar tudo.
Quem
monta a mesa de som precisa ligar a mesa de som, periféricos, os
amplificadores, testar cada caixa de som individualmente,
microfones sem fio, orientar quais quais serão usados para os
cantores e cada músico.
Feito
um bom briefing, feita uma boa divisão de tarefas, o serviço
fica muito mais fácil. E na próxima vez, reveza-se. Quem montou
cantores hoje montará os instrumentos. Quem montou os
instrumentos montará a mesa de som, e quem montou a mesa montará
os cantores. Com isso, todo mundo aprende todos os trabalhos.
7)
Seja o seu falar Sim Sim, Não Não no trato com as lideranças.
Por
último, tome cuidado com o seu falar junto às lideranças. Não
só o falar, mas até o seu comportamento, o seu jeito de andar,
de se comportar.
Só
há três coisas que chefe gosta de ouvir: “Sim Senhor”, “Pode
deixar, já vou providenciar” e, quando acontece algum problema,
“Desculpe, isso não vai acontecer novamente”. Pode ter
certeza que qualquer coisa além disso é de procedência
maligna.
Lembre-se:
chefe manda, você obedece. Simples assim. Então, faça o que te
pedirem. Mas...
-
haverá pedidos impossíveis, sem condições técnicas de
atender. Explique então que você não tem a aparelhagem para
atender a solicitação. Se pediram algo que já foi solicitado,
aproveite para lembrar “aliás, pastor, isso já foi solicitado
X tempo atrás, exatamente para poder atender um pedido como
esse”.
-
haverá pedidos difíceis de fazer, seja pelo tempo, seja pelo
grau de dificuldade. Lembro que, faltando 05 minutos para o início
de um evento grande, um pastor pediu para instalar uma caixa de
som do lado de fora de um ginásio, a quase 100 metros de
distância, para o pessoal do apoio ao evento, que ficaria de fora
do ginásio.
Ora,
era um pedido possível, porque eu tinha o equipamento, inclusive
o cabo, mas era impossível passar 100 metros de cabo por cima da
estrutura em 5 minutos, mas era bem provável que duas pessoas
fizessem isso em 30 minutos. Então, avisei que conseguiria
atender o pedido dele daqui a uma hora. Ele ficou satisfeito, e eu
ganhei o dobro do tempo que realmente achava necessário, pois
assim teria tempo para resolver qualquer problema encontrado.
-
haverá pedidos que trarão problemas ao som. Já vi pastores
pedindo coisas erradas tecnicamente falando. Nessas horas, é
preciso ter muita paciência. “Pastor, essa caixa que o senhor
pediu não pode ficar ali, ela causará microfonia”. Junto,
sempre proponha outra alternativa: “mas se ficar ali naquele
lado, não terá problema algum”.
Se
ele aceitar, ótimo. Se não aceitar e insistir, avise: “pastor,
já estou indo colocar a caixa lá, mas já aviso que não me
responsabilizo no caso de problemas”. Provavelmente dará
problemas, provavelmente todos vão falar mal do som, não de quem
mandou colocar uma caixa ali, mas a liderança saberá muito bem
de quem é a culpa, e isso basta.
-
você às vezes receberá uma ordem que vai contra outra ordem.
Pastor 1 proibiu de fazer uma coisa, pastor 2 veio depois e mandou
fazer exatamente o que foi proibido. Se o pastor 1 estiver
presente, você pode até chamá-lo e pedir para os dois
conversarem. Na falta do pastor 1, a autoridade presente é o
pastor 2, e você deve obediência a ele. Se acontecer alguma
coisa, você estará coberto, pois estava obedecendo a uma ordem
direta. O grande problema, no caso, é desobedecer a uma ordem
dada por uma liderança.
Então,
é só. Agora, vamos todos ao trabalho. Vocês dois, mais
experientes, vão ficar comigo, aqui de fora, olhando. Vocês 4
(um mais experiente, três menos experientes) vão lá montar
tudo. São 12:50, o evento inicia-se às 14:00h, quero tudo pronto
às 13:10, no máximo 13:20h. Se vocês fizerem tudo certo, esses
30 minutos dão e sobra!
Resultado
da aula: foram montar, não fizeram briefing, ficaram iguais
baratas tontas, cada um se metendo no trabalho de outro. O rapaz
que foi montar a mesa não tinha domínio do equipamento, não
sabia lidar com alguns periféricos, perdeu muito tempo por causa
de um único erro (um botão que deveria ser apertado, e não
foi), não procurou nem o manual nem foi consultar alguém mais
experiente (a gente estava logo ali, próximo).
A
montagem praticamente acabou às 14:00hs, no início do evento.
Não teve passagem de som, o resultado foi sonoramente horroroso.
Caixa de retorno dos pastores não funcionou e choveu reclamação
de que não estavam ouvindo.
No
intervalo, volta todo mundo... onde foi o problema?
“Simples,
a culpa é do Fernando que só parou a conversa 12:50h, a gente
deveria ter começado a montar muito mais cedo.“
Pensei:
“ai Jesus... essa equipe vai dar um trabalho... . Mas tudo bem.
A gente aprende mais com erros do que com acertos!”
Toda
essa história foi real, aconteceu sábado dia 13/Novembro.
Obviamente, nomes, locais e denominações não importam. Não
estamos aqui para encontrar culpados (aliás, se teve um culpado,
fui eu!). Mas que a história contada aqui tenha proveito a todos
os que lerem, para suas igrejas e suas próprias equipes, para
minimizar erros e melhorar os acertos, buscando assim uma benção
no trabalho de sonorização de igrejas.
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