Este artigo foi inspirado pelos inúmeros
casos de locais fechados e/ou pequenos, em especial igrejas, em que vemos
amplificadores de instrumento (mais conhecidos como cubos) mal
utilizados, sejam pelo sub ou superdimensionamento, por estarem absolutamente
mal posicionados, mal regulados, etc. Em suma, erros que fazem com que percam
desempenho, cumpram mal sua função, além de atrapalhar o sistema de
sonorização como um todo.
Gostaria de esclarecer que este artigo
tem como público-alvo os operadores de áudio iniciantes, os músicos que
se apresentam nesses locais, e até mesmo outras pessoas que, de alguma
forma, participam das tomadas de decisão quanto à aquisição e utilização
de equipamentos. Foi escolhido um vocabulário simples, para facilitar o
entendimento daqueles que não possuem conhecimento e vocabulário
técnico. Fica a possibilidade de, no futuro, expandirmos este artigo
para que sejam feitos os aprofundamentos técnicos de vários assuntos que
serão tocados de forma extremamente rasa, como ondulatória,
cancelamentos de fase, conceitos de mixagem, entre outros.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, como profissional que
visita várias igrejas e casas de eventos em geral, senti uma verdadeira
invasão do conceito de que os cubos e baterias acústicas são os grandes
vilões dos grupos musicais. Assim, vários grupos, optando pelo “bem maior” da plateia,
resolveram abolir o uso. “Vamos ligar tudo na mesa”, disseram animados, o
que realmente trouxe várias vantagens para os operadores de áudio. A
principal delas é a diminuição das fontes sonoras que não são
controláveis pelo “cara do som”. Assim, a mixagem fica muito mais
flexível, diminuindo a famosa “guerra de volumes” que tanto discutimos
no meio.
Antes, com os cubos individuais, o
operador poderia até cortar nos PAs o sinal de determinado instrumento,
mas ainda haveria no ambiente o áudio gerado pelo amplificador, que,
muitas vezes, ainda é demais para a mixagem pretendida.
Agora, depois de cortados e empilhados
todos os cubos na “salinha do som”, o operador de áudio sente-se todo
poderoso, podendo fazer o que bem entender em cada mixagem. Se for
instalada uma bateria eletrônica então, nem se fala...
O operador, que até então só era
responsável pelas vozes, e quem sabe pelo teclado e violão, parte para a
missão de mixar uma banda completa. Os que reclamavam do alto volume das
programações elogiam, mas depois de algum tempo de percepção musical,
começam novos problemas:
“Essa bateria eletrônica é horrível,
hein?!”;
“Não dá pra aumentar o violão?”;
“Cadê os grave do baixo?” (com erro de
português e tudo);
ou então a clássica: “O som da minha
pedaleira fica muito melhor no cubo”.
Pois é... E agora? Antes de cortar, sem
dó nem piedade, os cubos do palco, você se perguntou se o sistema de
sonorização tem capacidade de atender a banda toda “em linha”? O volume
que antes era gerado com o auxílio de vários amplificadores e
instrumentos acústicos, você terá que fazer só com esse “PAzinho”! Você
se preocupou em ver se suas caixas têm resposta de frequência compatível
com o timbre gerado por um contra-baixo ou uma bateria eletrônica? Ou
então, indo um pouco mais longe no técniquês, se perguntou se
há recursos de processamento mínimos para que você faça uma mixagem com
qualidade, sem virar essa salada que virou?
Por essas e outras, já me peguei em
diversas ocasiões sugerindo a utilização de cubos, mesmo onde, a
princípio, parece uma péssima escolha. Quer um exemplo? Os cubos são
uma ótima alternativa para quem está com o sistema de sonorização em
construção. Ou seja, ainda não há recursos técnicos suficientes para
fazer uma mixagem com qualidade nos PAs, e nem para uma distribuição
homogênea de retornos para todos os músicos. Às vezes, a mesa de
som temporária não tem nem canais suficientes para ligar todos
componentes da banda.
Também é importante citar os casos em que
o equipamento de som simples e descomplicado não é algo temporário,
e sim uma decisão de aquisição. Uma igreja sem operador de áudio,
por exemplo.
Às vezes, é melhor uma mixagem sem
controle pelo operador, com mais volume do que o ideal e um pouco
embolada; do que uma mixagem sob controle do operador, mas com péssimas
condições de retorno para os músicos, trabalhando com o sistema em níveis
de saturação e gerando um resultado totalmente embolado para o público.
Agora, para se obter um resultado
satisfatório com a utilização de diversos cubos no palco, é necessário
utilizá-los corretamente.
DICAS PRÁTICAS
1. QUAL CUBO USAR?
Para começar, um que seja adequado ao seu
instrumento. Um cubo de contra-baixo, por exemplo, é desenvolvido com
componentes que respondem de maneira ideal ao timbre gerado do
instrumento. Isso vai desde o(s) alto-falante(s), a amplificação, o projeto
da caixa (litragem interna, dutos de ar, etc), e até os recursos
personalizáveis pelo usuário, como o tipo de equalização e outros
recursos comutáveis.
Para uso ao vivo (há exceções para esse
raciocínio! Estou dizendo isso embasado na grande maioria dos produtos
disponíveis no mercado brasileiro), sugiro amplificadores
com potência mínima de 50w. Não pela potência em si, mas porque os
amplificadores com potência menor a essa costumam ser destinados a
estudo, ou seja, são bem baratos, e limitados quanto à sonoridade e
recursos. Os produtos de 50w ou mais já tendem para uso profissional, e
já possuem melhores componentes.
2. COMO POSICIONAR NO PALCO?
Os cubos projetam seu som para frente, ou
seja, o músico deve estar posicionado à frente do amplificador. Se o
cubo é a única fonte sonora do instrumento no ambiente, é importante que
esteja posicionado de frente para a plateia, mas ainda sim de frente para
o músico, para que não deixe de desempenhar seu papel de retorno.
Conforme a ilustração:
Ilustração de posicionamento de cubo como única fonte sonora do instrumento.
Agora, se o cubo está sendo utilizado
apenas como retorno, a posição recomendada é de lado em relação ao
palco, mas ainda de frente para o músico. Assim, o músico terá a
melhor audição possível, e interferirá muito menos no som gerado pelos
PAs. Conforme a ilustração:
Ilustração de posicionamento de cubo apenas para retorno.
Procure manter os alto-falantes
direcionados para seus ouvidos. Deixar o cubo no chão, olhando
para suas pernas, fará com que você necessite de mais volume para ouvir
bem, e ainda fará com que você ouça o som de forma indireta, ou seja, já
influenciado pelas reflexões acústicas do local. É mais volume no
ambiente, e som mais embolado nos seus ouvidos. Alguns cubos possuem um corte
inclinado na parte de trás, para que possam ficar no chão, e ao mesmo
tempo, voltados para o músico. Caso não tenha esse recurso, coloque
seu cubo em um suporte próprio, ou no mínimo, em cima de uma cadeira.
É importante comentar a importância de
manter certa distância entre o músico e o cubo. As frequências mais
graves possuem comprimentos de onda grandes, sendo que algumas
frequências podem chegar facilmente aos 3 metros! Ou seja, para ouvir
claramente tais frequências a uma distância muito curta, o músico terá
que disparar muito mais volume do que se estivesse na distância
adequada. E o público, ou até mesmo os outros músicos no palco, ouvirão
o som do instrumento em volume muito maior que o próprio músico, uma vez
que estão mais distantes, e ouvem as ondas após completarem os ciclos
completos. Entenda que aí começamos a mergulhar em conceitos um pouco
mais profundos, que necessitariam de uma explicação mais técnica para
que fossem compreendidos. Como não é o objetivo desse artigo, resumo
esse tópico com uma dica: mantenha distância de pelo menos 1 metro do cubo.
Se o palco permitir, fique entre 1 e 3 metros para uma audição ideal.
A utilização dos cubos em distância
superior a 3 metros não é necessariamente errada, mas só é coerente no
caso de grandes palcos, onde o volume dos mesmos não precisa ser
tão dosado, como nos pequenos locais que são o foco deste artigo.
3. QUANTO VOLUME UTILIZAR?
Se estiver utilizando o cubo apenas como
retorno, a resposta é bem simples: utilize o mínimo que precisar. O cubo
servirá para que você ouça seu instrumento com qualidade e definição,
além de preencher o palco com o som de seu instrumento. Evite incomodar os
“vizinhos”.
Agora, se estiver utilizando o cubo como
única fonte do instrumento no ambiente, é importantíssimo que haja
interação entre o músico e o operador de áudio. A princípio, utilize no
volume mínimo para retorno.
Atendendo às recomendações deste artigo, você
perceberá que dá para ouvir bem com pouco volume disparado! A partir
daí, busque a referência de como está a audição do instrumento para o
público. Às vezes será necessário aumentar ou abaixar um pouco. Localize
o meio termo entre volume satisfatório de retorno e equilíbrio com o
resto da banda.
4. CASOS PARTICULARES
Contra-baixo: Sem dúvida, a maioria dos
sistemas de sonorização de pequeno porte não tem recursos para
reproduzir o som de um contra-baixo com qualidade. Por isso, vejo aí um
ótimo candidato para utilização no cubo. E, mesmo que o sistema de PA seja
bem projetado, capaz de reproduzir com qualidade o instrumento para a
plateia, ainda sobra o problema da monitoração. Nem sempre temos um
monitor de chão ou fone de ouvido que dê uma referência de qualidade do
instrumento para o músico.
Guitarra: Aqui temos uma discussão e
tanto! Os amplificadores de guitarra, em especial seus alto-falantes,
são projetados de maneira a atender exclusivamente esse instrumento, o
que acaba produzindo respostas sonoras bem particulares. Podemos também destacar
características típicas de cada fabricante. Alguns
guitarristas localizam em determinada marca um timbre mais adequado
àquilo que espera de sua guitarra. Por isso, vários guitarristas fazem
questão da utilização dos cubos.
Para solucionar esse problema, vários fabricantes de pedais e pedaleiras
incluíram em seus produtos os “simuladores de amplificador”, ou seja,
recurso capaz de simular a presença de determinado cubo, simulando
também o resultado sonoro produzido por ele. É óbvio que aí temos MARCAS
e marcas,
PRODUTOS e produtos.
Simuladores de qualidade realmente
conseguem produzir tais características sonoras com bastante precisão. A
utilização ou não desses recursos é uma discussão que tange ao
gosto pessoal de cada músico, mas é óbvio que, com equipamentos de qualidade,
fica mais fácil “tirar” som de qualidade, seja no cubo ou no sistema de
PA.
PONTO DE VISTA FINANCEIRO
Como tudo no áudio, o mercado nos oferece
produtos baratos e produtos caros.
Se você está vendo nos cubos uma solução
definitiva para seu sistema de sonorização, procure por produtos de
qualidade, que trabalhem com certa folga de potência, e que atendam às
expectativas sonoras do(s) músico(s).
Se você está vendo nos cubos uma solução
temporária, enquanto o sistema de sonorização não é montado de forma
ideal, pense bem se vale a pena gastar dinheiro com isso... O que seria
investido em “cubo pra todo mundo” não daria uma boa agilizada
na aquisição dos equipamentos que estão faltando?
Por mais que pareça impossível em curto
prazo, tenha em mente e nas mãos o projeto do sistema de som perfeito
para você. Procure investir nos equipamentos que farão parte de forma
definitiva no “som ideal” de vocês. Evite desperdiçar dinheiro em equipamentos temporários
ou quebra-galhos, e dê preferência para antecipar aquisições do projeto
ideal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não podemos taxar o uso de cubos como
prejudicial à qualidade do áudio, nem muito menos tomar como exigência
boba por parte do músico. É um recurso que pode sim trazer benefícios,
mas deve ser utilizado observando regras, para que se tenha o
melhor desempenho possível, e sem se esquecer do contexto onde se está
inserido. Nem sempre som mais alto é som melhor.
Fica claro também, em especial para os
operadores de áudio, que trabalhar sem os cubos normalmente é melhor,
mas para isso, o sistema de sonorização precisa ser capaz de reproduzir
com qualidade a mixagem de toda a banda, tanto para o público, quanto para
o sistema de retornos.
Sobre o autor
Trabalho com áudio há 7 anos.
Iniciei como operador em igreja
evangélica. Há 4 anos começei a me envolver com grandes empresas de locação
de Brasília, trabalhando de graça a fim de ganhar experiência. Nesse tempo,
pude dividir o palco com Roupa Nova, Seu Jorge, Ney Matogrosso, Milton
Nascimento; e alguns nomes do mercado gospel, como Resgate, Oficina G3,
Renascer Praise, André Valadão e vários grupos pequenos de Brasília.
Em 2009, fundei a EQUALIZE Sonorização,
empresa de locação de equipamentos em Brasília. Além da locação, ainda hoje
presto serviço como operador freelancer, e presto consultoria para empresas
de locação iniciantes, bandas e igrejas.
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